terça-feira, 7 de julho de 2009

“Linguagem e Escola- Uma perspectiva social” - Magda Soares

A autora aborda as relações entre linguagem e escola a partir dos problemas da educação das camadas populares no Brasil e como o ensino da língua contribui para fortalecer as desigualdes.

A escola pública brasileira é insatisfatória e legitima as desigualdades com altos índices de repetência e evasão escolar. Mesmo com o aumento do acesso à escola, não ocorre a democratização da escola, ou seja, ainda não se tem uma escola pública e de qualidade para todos.

O fracasso escolar pode ocorrer pelos problemas de linguagem que favorecem a desigualdade, pois diante do conflito entre linguagem da escola que atende as classes privilegiadas e a linguagem das camadas populares, a escola acaba censurando a utilizada pelas camadas populares na aquisição do saber escolar.

A escola, para reforçar o discurso de que é democrática, traz outros discursos para justificar o fracasso escolar e a respeito disso, no segundo capítulo, Magda Soares coloca algumas explicações:
· Ideologia do dom: Todos têm a mesma oportunidade, mas o bom aproveitamento dependerá da aptidão de cada um.
· Ideologia da deficiência cultural: O fracasso escolar é justificado pela deficiência cultural onde os alunos são mal sucedidos por pertencerem a um meio desprivilegiado e pobre econômica e culturalmente, inclusive nas comunicações. A escola buscou formas de compensar essas carências, mas a Sociologia trouxe uma outra discussão a respeito dizendo que não há deficiência cultural, mas diversidade cultural.
· Ideologia das diferenças culturais: Cada grupo social tem uma cultura própria. A diferença é transformada em deficiência.

No terceiro capítulo, a autora discute a teoria da deficiência lingüística, como surge, sua influência na escola e as contribuições de Basil Bernstein, com uma teoria que diz que “é a estrutura social que determina o comportamento lingüístico”(p.21). A defasagem lingüística, na teoria da deficiência cultural, ocorre por causa da pobreza do ponto de vista lingüístico do meio que a criança vive. A solução para essas “deficiências” foi a educação compensatória que surge para camuflar o verdadeiro problema da educação de uma sociedade capitalista: a má distribuição das riquezas.

Este conceito é contestado no quarto capítulo, baseado nos estudos da Sociolingüística, que comprova a existência de variáveis lingüísticas e negando a deficiência ou inferioridade de uma em relação a outra. O que existe são dialeto padrão e dialeto não padrão.

Magda Soares, no quinto capítulo, retoma os conceitos de deficiência lingüística e diferenças lingüísticas numa Sociedade da Linguagem, responsabilizando a sociedade capitalista por transformar diferenças em deficiências, através da imposição de cultura e linguagem que a classe dominante exerce sobre a dominada com a mediação da escola. Apresenta também as contribuições de Bourdieu com uma crítica que diz que a dominação lingüística de uma classe sobre outra acontece visando o lucro dentro de um mercado lingüístico.

A autora afirma que a solução para o fracasso escolar não está na escola: “(...) numa sociedade marcada pela divisão em grupos ou classes antagônicos, que se opõem em relação de forças materiais e simbólicas, não há solução educacional para o problema do fracasso escolar; só a eliminação das discriminações e das desigualdades sociais e econômicas poderia garantir igualdade de condições de rendimentos na escola.” (p.64).

O capítulo seis traz contribuições finais do livro na questão da linguagem e escola. Procurando apontar caminhos para questões sobre a relação entre classe social, linguagem e escola; o papel da escola na educação das camadas populares e o ensino da língua. Diferentes campos do conhecimento como a Sociolingüística, a Sociologia, a Sociologia da Linguagem, a Lingüística e Psicologia têm contribuído para fundamentar o ensino da língua materna com reflexões sobre o processo de transformação social.

Beatriz Tomaz Ruela RA: 015550
Valéria de Almeida Laura RA:073793

Fala Maria Favela. LEAL, Antônio.


O livro, Fala Maria Favela, é o relato de uma experiência sobre o processo de alfabetização desenvolvido por um professor , da rede pública, em uma escola na favela da Rocinha na cidade do Rio de Janeiro. A turma com o qual este professor vai trabalhar, é considerada uma turma “especial”, nela estão alunos que apesar de estarem a três anos na escola, ainda não foram alfabetizados. As dificuldades que surgem na sala de aula estão ligadas as contradições que fazem parte da vida das crianças moradoras da favela. O professor faz críticas a tendência de rotular as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. A proposta desenvolvida com esta turma foi sendo construída de acordo com as impressões e necessidades que o professor detectava na sala de aula; e todo o processo de alfabetização destes alunos possuía uma multiplicidade de idéias e ações.
Acredito que o livro é indispensável para todo educador, sobretudo para os que estão envolvidos com a alfabetização. Os conflitos que são apresentados no livro refletem a realidade de grande parte das escolas da rede pública de ensino brasileira, e quem pretende se inserir nesta realidade, precisa estar bem instrumentado, e este livro, que não tem a intenção de apresentar um método de alfabetização pronto, traz uma série de reflexões críticas que permitem ao educador pensar sua prática de ensino, reflexões de caráter educacional, político e social, entendo que todos estão interligados indiscutivelmente.
Damaris Guedes RA: 070520

Psicogênese da Língua Escrita – Emilia Ferreiro e Ana Teberosky

A escolha deste livro teve influência da Alina, que me disse tratar-se de um clássico da alfabetização, no qual cada leitura permite uma nova reflexão. Resolvi seguir sua sugestão, pois como a bibliografia para Roda de Leitura era muito extensa, não sabia qual livro escolher, aliás, deixo como sugestão que para a próxima Roda, haja um resumo sobre os livros sugeridos, permitindo que os alunos possam optar pelo livro que mais seja de seu interesse.
A leitura anterior de sua obra “ Reflexões sobre a Alfabetização” também me incentivou a escolher este livro, pois a obra referida me estimulou muito a pensar a complexidade da alfabetização, tema que pretendo levar para meu trabalho de conclusão de curso.
Na minha opinião o livro segue a linha construtivista e aprofunda um pouco mais sobre os processos e as formas em que as crianças aprendem a leitura e a escrita, dando a elas papel de destaque nos processos e desmitificando a idéia de que são vazias e passivas, além disso, as autoras apresentam a situação educacional na América Latina por meio de dados da UNESCO.
Devo dizer que apesar de ser um livro de 1986, me pareceu bastante atual.
O livro “Psicogênese da Língua Escrita” tem estilo acadêmico e teórico, mas não é uma leitura difícil, apesar de não ser um livro voltado para a prática, ou seja um guia prático de alfabetização, eu me arrisco a afirmar que é imprescindível sua leitura, até mesmo por aqueles que pretendem atuar de forma concreta na área da alfabetização, pois ao entendermos como as crianças aprendem a ler, podemos pensar como ensiná-las.
O que mais me interessou durante a leitura do livro, foi o fato de que as autoras me propiciaram uma séria reflexão sobre a educação e a sociedade, sobre seus compromissos políticos, econômicos e sociais. Fizeram que eu retomasse questões acerca da cultura dominante, capital cultural, luta de classes, fracasso escolar, meritocracia…
Posso dizer que aconselho a todos esta leitura, pois tendo a concordar com a Alina e afirmar que é um livro importante para aqueles que se interessam pela alfabetização, é um livro complexo, algumas vezes assustador, pois mostra a realidade de uma forma perturbadora, mas também de leitura reflexiva e que instiga a pensarmos criticamente a educação, fazendo com que questionemos o status quo, no entanto, àqueles que se interessam por educação de jovens e adultos, senti que o livro não aborda este tema, até mesmo pelo fato de que não é este o objetivo das autoras.


Aluna: Natália Mitie Shiroma

Aprender a formar crianças leitoras e escritoras. Gloria Inostroza de Celis.

INTRODUÇÃO
Escrevemos brevemente sobre este livro de acordo com a proposta da roda de leitura, ou seja, despertar o interesse dos colegas pela leitura deste livro.

SOBRE A AUTORA
Gloria Inostroza de Celis já teve o cargo de Reitora da Faculdade de Educação na Universidade Católica de Temuco (no Chile). Realiza pesquisas sobre formação docente e didática da língua. Ela é coordenadora geral de oficinas educativas da Universidade Católica de Temuco e da rede para a Transformação da Formação Inicial em Língua Materna do Chile. Ela é integrante da equipe de Linguagem do Programa MECE Básica Rural. (Ministério da Educação do Chile).

CONTEXTO DA ESCRITA DESTE LIVRO e ESTRUTURA
O Livro Aprender a Formar Crianças Leitoras e Escritoras narra uma experiência de pesquisa-ação em um curso sobre o ensino de leitura e escrita na Universidade de Temuco no Chile. A experiência parte de uma posição construtivista e comunicativa. Em síntese o livro é composto por quinze oficinas distribuídas em três partes com os temas: Em que consiste ler e aprender (parte 1), Organizar a aula para ler e escrever (segunda parte) e Como praticar a metacognição (terceira parte). Ao final de cada parte há uma oficina intitulada “A título de Conclusão” a qual possibilita uma reflexão acerca de todo conteúdo que foi visto nas oficinas anteriores. Cada oficina é composta por um pequeno texto introdutório referente ao conteúdo que será abordado, uma ficha de trabalho da oficina, um documento de discussão, um documento de referencia (teoria) e síntese dos conceitos trabalhos na oficina. Em suma, são quinze oficinas planejadas para serem trabalhadas durante um semestre acadêmico, a autora recomenda pra quem utilizar esta experiência respeitar a ordem da mesmas, pois estas são seqüenciais. Essas oficinas procuram fomentar e potencializar o papel de professor-pesquisador capaz de aprender a refletir sobre sua própria prática e a contribuir com o grupo.

A QUEM DIRIGE ESTE LIVRO
Este livro é indicado especialmente aos educadores que pretendem formar seus alunos dentro de uma concepção construtivista, pois este pode ser usado como subsidio para trabalhar a leitura e escrita.

CONTEÚDOS EM CADA OFICINA RESUMIDAMENTE
Julgamos importante frisar os conteúdos trabalhados em cada oficina deste livro.
PRIMEIRA PARTE – Em que consiste aprender a ler e escrever?

Oficina 1- A mudança nas práticas pedagógicas.
Essa oficina permite a reflexão já que as atividades propostas visam compreender a prática pedagógica que cada professor adota, estimulando o docente a refletir sobre sua própria prática e favorecendo a abertura de aprendizagem a partir de novas formas de se pensar e agir responsavelmente em prol de uma relação significativa do aluno com o conhecimento: aprender a pensar com rigorosidade, a conhecer como se aprende, a ser flexível (crítico e autocrítico), a propor e resolver problemas, a assumir novos papéis, a comunicar-se e, a trabalhar em equipe (cooperativamente).

Oficina 2- Princípios básicos.
Como o próprio nome da oficina sugere serão abordadas questões conceituais tidas como fundamentais:
· Como as crianças aprendem a ler?
· Quando aprender a ler?
· Com que tipos de textos aprendem a ler?
· Quando iniciam o processo de escrita?
· Para quê lêem e escrevem?

Tarefa do educador: A compreensão da criança surge do que ela já conhece e identifica com a linguagem, essa é uma base necessária para construção do conhecimento. As atividades que a criança tem de desenvolver tem de ter sentido, relevância e propósito. Criar condições que favoreçam a auto aprendizagem da leitura e da produção de textos (p.37). Representar adequadamente os fins de leitura afim de que as crianças desenvolvam uma atitude de leitor e escritor. Ninguém aprende a ler porque sim! Assim essa oficina propõe a privilegiar o uso de textos autênticos, fazer as crianças interatuarem em múltiplos eventos, valorizar a experiência e a linguagem das crianças, aprender a ler e escrever, lendo e escrevendo num ambiente estimulante, ensinar dando lugar a múltiplas aprendizagens, usando recursos como a biblioteca de aula, sua comunidade etc., as crianças passarem a se auto-avaliar (perceberem se evoluíram em algum aspecto da leitura e escrita ou não).

Oficina 3- Ler: Conceitualização.
Mais alguns conceitos são abordados:
· O que é ler?
· O que se faz com a leitura?
· Como se lê?
· Por que é tão complexo o ato de ler?

O objetivo desta oficina é de entender os fatores que estão implicados no ato de ler e manejar estratégias que facilitem descobrir o sentido de um texto. A partir da leitura de um texto em francês. Essa estratégia é utilizada para fazer analogia a forma como as crianças aprendem a ler utilizando estratégias de leitura, pois da mesma forma que não sabem ler convencionalmente os professores não sabem ler em francês.

Oficina 4- Aprender a ler
O objetivo desta oficina é compreender como a criança se apropria das estratégias de leitura e as seleciona adequadamente, de acordo com o tipo de texto e o propósito de sua leitura, além de constatar que existem múltiplas maneiras de se ler um texto. O objetivo é valorizar atitudes como o leitor no ato da leitura, que estratégias utilizam para compreender seu significado.

Oficina 5- Escrever e produzir textos
O objetivo é diferenciar os atos de escrever e os de produzir textos. Em suma, o ato de escrever refere-se a escrita alfabética de um texto que geralmente é uma cópia. Em troca, o ato de produzir um texto é um processo complexo que inclui o planejamento, a elaboração textual e a revisão.
Ainda ressalta que somos responsáveis pelas conseqüências do que dizemos e do que não dizemos aos nossos alunos. Por isso estimular a criança a ter prazer em escrever e promover reflexão metacognitiva do que aprendeu e como aprendeu.

Oficina 6- A título de conclusão.
Em síntese desta primeira parte a reflexão leva a pensar em que crianças querem formar: que leiam e produzam textos de todo tipo; que construam suas aprendizagens de forma individual; que identifiquem-se positivamente, gerem e desenvolvam seus próprios projetos. O educador é responsável por criar condições que favoreçam auto-aprendizagem da leitura e da produção de texto das crianças.

SEGUNDA PARTE – Organizar a aula para ler e escrever.

Oficina 7- Como organizar a prática pedagógica e a sala de aula?
Organizar uma sala de aula textualizada (data, calendário, quadro de aniversários, rótulos de caixas com materiais de diversos tipos, quadro de responsabilidades, além de uma biblioteca na sala de aula (com histórias, poemas, jornais, dicionários, enciclopédias, manuais, catálogos etc., a elaboração de um jornal-mural (definidos pelo grupo, e cada um responsável por uma tarefa na sua elaboração e também valorizar sua criatividade), caixa com textos da vida cotidiana (rótulos, receitas, cartas, piadas etc.). Criar situações que permitam as crianças sentir o desejo de comunicarem-se por escrito, guardarem lembranças. Álbuns (caminhada de leitura – fotos de propagandas, placas de transito, letreiros/ oficio e profissões – permite a criança conversar sobre as ações que ali se realizam/ nossas raízes –revalorização da cultura). Fichário de palavras (jogos de classificação). Cartazes de metacognição agrupamento de todos os textos que as cçs sabem ler para construir um significado, aprender a produzir textos. Cartazes de sistematização do que foi aprendido.
Todas essas idéias buscam o propósito de valorizar a criatividade, sistematizar as aprendizagens, despertar o desejo de ler, vincular a criança com o mundo exterior, assim como estabelecer comprometimento com suas aprendizagens, facilitar o trabalho, apoiar a formação de hábitos, incentivar o valor estético. Essas atividades proporcionam ainda o reconhecimento pelo aluno de seu nome e dos colegas, valor sonoro e a ordem alfabética. Por este motivo julgamos relevante colocar todas as atividades que são propostas nesta oficina.

Oficina 8- Um projeto de realização.
Contém estratégias para planejar e executar um projeto de aula. Esta oficina ressalta a importância da elaboração de projeto com o auxilio dos alunos, pois este além de se fazer sujeito de sua formação (e não objeto), conseguem atribuir significado às atividades desempenhas. Propicia ainda trabalhar a disciplina em sala de aula sob uma nova perspectiva, alertando os professores que alunos sentados não são alunos disciplinados na concepção trabalhada, mas sim alunos que entram em conflitos e as soluções encontradas pelos menos com a mediação do professor.

Oficina 9- Elaboração de um projeto para aprender a ler.
Mais uma vez alerta para a leitura significativa para o aluno para que este note a importância de saber ler em sua vida. Para isso propõe projetos que tragam para a escola textos do cotidiano do aluno como receitas, regras de jogo etc, assim como visitas ao supermercado e outros locais da comunidade em que vivem.

Oficina 10- Elaboração de um projeto para aprender a produzir textos.
Nesta oficina o publico alvo são alunos que já sabem ler e escrever convencionalmente, mas alguns apresentam ainda erros ortográficos. O objetivo é um projeto trabalhando a escrita significativa e por este motivo propõe como produto final um livro para os alunos menores da escola e exposição aberta aos pais.

Oficina 11- A título de conclusão.
Os objetivos das oficinas que compõe este módulo são promover autonomia do aluno, sendo que o professor deve realizar intervenções a fim de que os alunos avancem em sua aprendizagem, promover participação da comunidade e da família na escola e fazer com que a avaliação seja também uma auto-avaliação dos professores e dos alunos no sentido de refletirem sobre seus trabalhos.

TERCEIRA PARTE – Como praticar a metacognição.

Oficina 12- Reflexão metacognitiva e metalinguística no nível macrotextual.
Alguns questionamentos são feitos como:
· A criança identifica diferentes tipos de textos? Sim? (bem? Regular? Não alcançado)
· Ela sabe pra que significa um determinado tipo de texto?
· Sabe onde encontrar um determinado tipo de texto?
· Identifica a superestrutura de diversos tipos de texto?
· Ela sabe identificar os parâmetros da situação comunicativa? (emissor, destinatário, conteúdo etc.)
· Identifica os sinônimos, os conectivos?
· Sabe utilizar o dicionário?

Oficina 13- Reflexão metacognitiva e metalinguística no nível microtextual.
Mais uma vez questões são levantadas na reflexão metacognitiva e metalinguística:
A criança sabe identificar as marcas textuais (gênero, numero,tempo e lugar, pessoa)?
Conhece as letras do alfabeto, as vogais, as consoantes?
Dá nome as letras de seu nome?
Completa uma palavra seguindo ou não um modelo?
Encontra semelhanças de palavras? E as diferenças?
Reconhece a semelhança de palavras no uso de sufixos e prefixos?
A criança consegue relacionar fonemas e grafemas?
O que se propõe a partir disso é contextualizar as aprendizagens, proporcionar situações e materiais facilitadores nesse trabalho e familiarizar a criança com determinadas características da linguagem escrita.

Oficina 14- Construção do sistema da escrita
Para a construção do sistema da escrita alguns pré-requisitos são necessários como o uso do lápis, tesoura, materiais pequenos (coordenação motora), escrever seu nome completo. Desta forma esta oficina pertende avaliar se a criança sabe usar o lápis, a tesoura, materiais pequenos. Se sabe escrever seu nome completo (com os tipos de letra script, cursiva ou maiúscula. Com ou sem modelo, ou seja precisa copiar de algum lugar?). Se a criança sabe escrever sobre uma linha, em linha reta, respeitando as margens. Se a criança copia palavras com modelo em letra script, cursiva ou maiúscula. Se a mesma reconhece seu nome (numa etiqueta, lista, entre outros nomes). Se a criança reconhece palavras conhecidas (dias da semana, meses do ano, nomes de bebidas, alimentos, objetos, títulos de histórias) e ainda se é capaz de reconhecer outras palavras (com ou sem auxilio de um modelo).
A autora julga ser “muito importante para o próprio professor e para as crianças irem observando seu manejo no progresso dessas competências”.
Assim como a importância de as crianças terem liberdade de escolha em relação ao que se vai escrever, bem como perguntar o que não se sabe.

Oficina 15- A título de conclusão.
Em síntese, propõe que cada criança tenha seu caderno de metacognição, no qual fique registrado o que foi aprendido, além de respeitar o tipo de aprendizagem de cada um, tanto individual quanto em pequenos grupos.


APRECIAÇÕES FINAIS DE CADA UMA
ANNA: O título deste livro me chamou bastante a atenção, e a cada virar de página ia me surpreendendo positivamente em relação de como o professor precisa refletir sobre o método que utiliza e as sugestões que ela menciona no livro são muito válidas. O livro possui uma linguagem simples e muito prazerosa, principalmente para quem nunca teve a experiência de trabalhar com crianças em processo de alfabetização. Eu recomendo até para os que já possuem alguma experiência, pois faz o leitor refletir bastante sobre o papel docente. Quem quiser emprestado o livro é só me pedir!
SIMONE: O que pude apreender com esta leitura foi como despertar o interesse na criança pela leitura e escrita, propiciando um ambiente letrado em sala de aula e trazendo elementos de seu cotidiano nas atividades desempenhadas. Para isso é importante planejar conjuntamente aos alunos e expor suas produções de alguma forma (produto final). Achei o conteúdo semelhante ao do curso Letra e Vida, pois são concebidos nos moldes construtivistas. Neste livro as oficinas propõe atividades a serem desenvolvidas com alunos desde o inicio de sua alfabetização. Diante de tudo o que já foi escrito pelo livro, indico esta leitura por ser muito prazerosa e por aprensentar com várias atividades passo-a-passo, o que julgo ser muito bom para professores – principalmente iniciantes – que muitas vezes ficam perdidos diante de como trabalhar com seus alunos.

Anna Leticia Amadeu RA: 070205
Simone Simoso de Moraes RA: 072384

Formando Crianças Leitoras - JOLIBERT, Josette (org.)


Dividido em duas partes, cuja versão original é baseada no sistema educacional Francês, o livro encontra-se no idioma de origem.

Parte 1 – Formando crianças leitoras
A primeira parte é dividida em nove capítulos, onde são discutidas formas de amplas inserções da criança no mundo da leitura. São trabalhadas idéias relativas às atitudes do professor que podem despertar o interesse da criança pela leitura, bem como ajudá-la a desenvolver essa prática.

Capítulo 1- Nossas orientações de trabalho
· Crianças ativas num meio em que elas gerenciam.
· Aprendizado e ensino – discute-se a passividade da criança na escola, ou seja, o quanto lhe é ensinado pelo professor e o pouco que ela aprende “por si só”.
· Ensinar não é inculcar, mas ajudar alguém no seu próprio processo de aprendizagem.
· Ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito – não passar pelos estágios da decifração (letra por letra) e nem da oralização (grupo respiratório por grupo respiratório).
· Diferentes estratégias de leitura (para cada coisa que se vai ler, usa-se um método diferente de leitura).
Nas páginas finais deste capítulo são propostas algumas atividades para que o professor se avalie como leitor.

Capítulo 2 – Vida cooperativa e pedagogia de projetos
· Aula cooperativa – interação máxima professor/aluno.
· Pedagogia de projetos – a criança é agente de seu aprendizado.
· Elaboração de projetos de ensino junto aos alunos.

Capítulo 3 – Quais as situações de leitura? Quais os textos? Quais as formas de escritos?
· Não há o momento de leitura na classe; lê-se o tempo todo.
· Não se lê para aprender a ler, mas sim por interesse imediato (interesse por algum assunto).
· Leitura usada no dia-a-dia – diversos tipos de textos e diversos modos de ler.

Capítulo 4 – O que é “questionar” um texto para construir seu sentido (ao invés de “decifrá-lo”)
· Construção de um sentido para o texto ao invés de sua mera decifração.
· A criança começa a ler sozinha. Deve-se utilizar e desenvolver as competências que ela constrói sozinha, e não contrariar.
· Procurar textos que sejam atraentes para as crianças (publicitários, temas relativos a certa idade, histórias em quadrinhos).
· A criança investiga o texto antes de ler (de onde ele veio, quem o trouxe, etc.).

Capítulo 5 – Os apoios à leitura e as atividades de sistematização
· Não se ensina a criança a ler; ela se ensina:
Apoio na compreensão imediata, na elucidação de estratégias e na elaboração e utilização de instrumentos de referencia.

Capítulo 6 – Livros: multiplicar e diversificar os encontros
· O canto da leitura (uma mini biblioteca dentro da sala de aula).
· Apropriação do livro e do canto da leitura.
· Bibliotecas.
· Exposição/vendas de livros.
· Ateliês de leitura.

Capítulo 7 – Produção de escritos
· Estímulo à produção da escrita:
o Escrever para comunicar.
o Histórias ou poemas inventados.

Capítulo 8 – Avaliação: quais as competências construídas pelas crianças?
· Avaliação contínua.
· O aprendizado da leitura é um processo, e tem de ser avaliado como tal.
· Observações nas avaliações: localização de indícios e verificação de hipóteses.

Capítulo 9 – Os pais e o aprendizado da leitura de seus filhos
· Métodos antigos x modernos.
· Pais compreensivos, parceiros e informados.
· Cobrança de uma leitura precoce.

Parte 2 – Formando crianças leitoras de textos
Esta parte é divida em seis capítulos, assim como a primeira parte, ela discute a inserção das crianças na compreensão de textos, no entendimento de sua forma estrutural e na compreensão da elaboração de textos. Também são discutidas as atitudes do professor no processo de aplicação das atividades, bem como a avaliação destas, e o papel desenvolvido pelos demais órgãos e pessoas presentes no processo de aprendizagem da criança.

Capítulo 10 – Competências construídas no Ciclo de Aprendizagens Fundamentais
· Competências Culturais:
o Conhecer os locais onde se possa encontrar material de leitura de determinada origem, como documentos oficiais, por exemplo.
o Identificar, através da estrutura do texto, sua origem, por exemplo, a forma em que se apresenta manuscrita ou impressa.
· Competências mentais:
o Construção através da inteligência, por exemplo, comparar, reproduzir, entre outros.
Competências lingüísticas, sendo estas, as mais trabalhadas nos próximos capítulos, e que se encontra em sete parâmetros ou níveis:
o Noções de contexto, como chegou o texto até o leitor, a origem do texto e a autoria do texto.
o Parâmetros de comunicação, o emissor, o destinatário, o objetivo do texto.
o Tipo de texto, podendo ser um cartaz, uma carta, uma receita, entre outros.
o Superestrutura que se manifesta sob a forma de organização espacial e lógica do texto.
o Linguística textual dos enunciados (como por exemplo, pessoas, tempos, lugares) e suas marcas, dos substitutos (como por exemplo, primeiro Pedro, depois ele), dos conectores (como por exemplo, e, assim), dos campos semânticos (as redes de sentido), e da pontuação do texto.
o Linguística da frase como a sintaxe, a ortografia, a pontuação da frase e ao vocabulário.
o Palavras e microestruturas como o grafemas, as microestruturas sintáxicas, as marcas nominais (como por exemplo, singular e plural), as marcas verbais (como por exemplo, espaço e tempo) e as microestruturas semânticas (como por exemplo, prefixos e sufixos).
Sendo papel do professor “... interagir indícios nesses sete níveis.” (p. 143).

Capítulo 11 – Um processo sistematizado de “questionamento de textos”
Neste capitulo há uma orientação ao professor de como incitar os alunos a questionar os textos seguindo os setes parâmetros sem uma ficha ou ordem.
· Indica a leitura repetitiva do texto para sua compreensão.
· O professor deve instruir os alunos a interpretar o texto de maneira autônoma.
· Um trabalho de interpretação em grupo.

Capítulo 12 – Indícios linguísticos típicos de alguns tipos de textos
Neste capítulo há uma indicação ao professor, com exemplos de tipos de textos (receita, carta, cartaz e relato) e o que deve ser avaliados nestes, com base nos sete parâmetros citados no capítulo 10, sendo aplicado para toda a sala em conjunto ou em grupos. Tendo como processo final a indicação que a criança elabore um texto nos mesmos parâmetros.
Seguem-se abaixo alguns exemplos do que avaliar em determinados textos:
· Uma receita, sendo avaliado, por exemplo, o objetivo, uma meta, os tempos verbais, as estruturas de frase, o vocabulário, os verbos e advérbios encontrados.
· Uma carta: o remetente, sendo avaliado, por exemplo, o destinatário, o contexto, a superestrutura ou a silhueta do texto, a linguística textual e da frase.

Capítulo 13 – Inventário classificado de atividades de exercício e reforço
Neste capítulo há uma indicação ao professor, com exemplos de tipos exercício de reforço e o que deve ser avaliados nestes, com base nos sete parâmetros citados no capítulo 10, como por exemplo:
· Encontrar erros ortográficos, verbais, nominais, semânticos e de pontuação.
· Nomear o tipo de texto, como por exemplo, carta ou cartaz.

Capítulo 14 – No final do Ciclo, para ser um bom leitor, uma criança deve ser capaz de...
Neste capítulo o professor deve aplicar novamente as indicações do capitulo 12, mas desta vez individualmente a cada aluno.

Capítulo 15 – Quais as modalidades de avaliação das competências do leitor? Propostas
· Cada criança deve se auto-avaliar relacionando seu desempenho com o de seus colegas e ao que ainda deve ser aprendido nos processos de aprendizagem sucessor.
· O professor também deve auto-avaliar seu (des)empenho junto e em relação aos alunos, nesse processo.
· Os pais devem avaliar como ajudaram ou não o processo da criança na aquisição da leitura e produção textual.
· Avaliar o auxílio vindo do bairro, município e ministério e secretarias da educação.

Marília Bossolan RA: 071804
Lais Fernanda Jaciani RA: 073307

lfabetização e trabalhadores: O contra-ponto do discurso oficial. MELO, O. C


Introdução:

Trata-se de um trabalho de pesquisa realizado pela autora e tem como perguntas geradoras as seguintes indagações: “O que é que tem sido alfabetização? Quem tem sido alfabetizado? Para quê se tem alfabetizado?”
Partindo da premissa de que, com o advento da alfabetização em massa, os métodos e técnicas de alfabetização têm sido demasiado valorizados e isso tem feito esvaziar da sala de aula a produção de conhecimento, a autora acredita que, nesse processo, alunos e professores têm sido transformados em meros objetos consumidores de informação.
O Estado isenta-se de sua responsabilidade com o analfabetismo repassando aos municípios a responsabilidade de “receber esses analfabetos para ensinar-lhes esses rudimentos de escrita, determinados pela relação leitura/escrita, desenvolvimento industrial”.
A autora pretende assim buscar o sentido da alfabetização, buscando na história política a relação “escola/escrita/classes sociais”. Para isso ela fará a reconstituição da história de leitura e escrita de um grupo de trabalhadores rurais e urbanos, a partir do ponto de vista não da visão oficial e sim dos próprios trabalhadores.
O Percurso:
A hipótese inicial do trabalho colocava a existência de duas histórias: uma oficial e outra não-registrada, histórias estas que se entrecruzavam a todo o momento. Contudo com o passar dos acontecimentos a autora pode perceber que na verdade havia apenas uma história constituída de “dominação e resistência”.
Os trabalhadores reproduziam o discurso oficial interagindo com ele. Assim esse discurso parecia produzir diversas faces.
Diante desse impasse a autora decidiu que o melhor caminho para poder desvendar aqueles discursos seria o caminho da linguagem. Apropriando-se das interpretações de Bakhtin - a qual afirma que a linguagem se constitui nas relações sociais e na luta de classes e, assim sendo, expressa e veicula o efeito dessa luta: os conflitos da língua refletem num movimento dialético os conflitos de classes - a autora decidiu que deveria “resgatar o caminho de constituição da língua escrita” daqueles trabalhadores.
O trabalho de resgate constituiu em diálogos livres individuais ou grupais, onde a autora tornava-se a narradora que interagia com seus interlocutores. O fato de ser livre tornava o diálogo mais espontâneo e aberto ao confronto.
Esse tipo de diálogo proporcionou que mesmo que os trabalhadores reproduzissem o discurso oficial as vozes da resistência fluíam.
Os trabalhadores permitiram esse diálogo, alguns tinham vergonha por serem analfabetos e não queriam falar, outros não queriam falar, pois diziam que suas palavras já foram usadas contra eles próprios.
Apesar de desconfiados da escola, faziam de tudo para poder manter os filhos na escola, o desejo deles é de que seus filhos possam “ler e escrever de verdade”. Eles almejam que seus filhos não passem pelos mesmos sofrimentos que eles passaram e vêem na leitura e na escrita a oportunidade de garantir os direitos que eles não puderam usufruir.
Excluídos, porque somos culpados:
Neste capítulo a autora trabalhará sua hipótese nas falas dos personagens. Hipótese esta que ela retoma dizendo:
Era um espaço de um processo onde as várias versões da história de alfabetização se cruzavam, se penetravam, lutavam entre si, garantindo, no entanto, a sua concretização. Uma existia porque a outra existia, certo que na dos trabalhadores se representavam a força e a memória da outra.
Outro aspecto reforçado pela autora é o de que o registro oficial tomava pra si as falas dos trabalhadores. Ao se apropriarem das falas dos trabalhadores, o discurso oficial tem falado por eles como se fossem eles. Portando, apropriação, manipulação e cooptação têm feito parte da história oficial da alfabetização no Brasil.
Neste sentido, as “campanhas de mobilização contra o analfabetismo” significaram alfabetizar os trabalhadores de uma maneira mecânica e funcional atribuindo a eles apenas rudimentos de leitura, habilidades técnicas, motoras, destinadas a estabelecer o aumento produtivo da fábrica.
Assim, através das falas dos trabalhadores a autora pode identificar importantes questões ligadas à história da alfabetização: 1 – Alfabetização para ler instruções e avisos, assinar nome e contrato; 2 – Alfabetização como qualificação para o trabalho; 3 – Alfabetização técnica e funcional; 4 – Alfabetização como desígnio divino de alguns; 5 – Alfabetização como valor moral; 6 – Alfabetização como instrumento de higiene; 7 – Alfabetização como garantia do lugar social; 8 – Alfabetização como conhecimento “dado”; 9 – Alfabetização como restrição; 10 – Alfabetização como anulação do trabalhador; 11 – Alfabetização como valorização da língua padrão; 12 – Alfabetização nega a identidade lingüística percebida na oralidade; 13 – Alfabetização que cria o espaço das deficiências e dos defeitos; 14 – Alfabetização como medo e insegurança; 15 – Alfabetização = Raciocínio correto; 16 – Alfabetização como submissão; 17 – Alfabetização como propriedade privada de alguns.
Com toda essa constatação, a autora ainda é otimista, “Realmente, estas falas formam e têm sido apropriadas pelo discurso oficial, mas nem por isso deixaram de existir. Elas se encontram recolhidas, mas vivas...É preciso, pois, buscar pela linguagem da resistência, a outra história. Mas de um ponto de vista bem diferente.”
O que não é registrado, tem registro:
Neste capítulo a autora demonstra que muitos trabalhadores, percebendo o ocorrido (apropriação por parte do discurso oficial da fala dos próprios trabalhadores), assumem a tarefa de resgatar a história não registrada. Assim, os trabalhadores, na busca de sua identidade lingüística e cultural, questionam sua condição de classe, marginalidade e exploração, vislumbrando uma sociedade onde o acesso ao saber e ao poder não lhes seja negado.
As formas de resistência, porém, são heterogêneas, vão desde o simples desejo de algo proibido às práticas efetivas de transformação. A defesa das raízes e tradições culturais são importantes indícios dessa resistência.
Segundo a autora, “... eles querem que a escrita complemente a oralidade. Sabem “do valor positivo” que os grupos dominantes conferem à escrita e, como marginalizados, não podem ficar excluídos desse processo, porque têm a clareza de que o mundo de hoje é o mundo da escrita.
Os trabalhadores sabem que se não se enquadrarem nas cartilhas do capital estarão entre outras coisas, desempregados (“se os letrados não conseguem emprego, que dirá os analfabetos”). Eles criticam a escrita escolarizada, pois acreditam que “é preciso aprender aquilo que o patrão sabe, para poder ter entendimento”.
Essas formas de resistência têm provocado em toda a sociedade manifestações pela redefinição da escola atual.
A autora trabalha utilizando o conceito foucaultiano de microfísica do poder e afirma “o poder produz um saber que tenta encobertar todos os saberes considerados inferiores e desqualificados, com o fim determinado de tornar o trabalhador, que já é produto do poder, também objeto do saber. Instaura-se a verdade absoluta – o trabalhador, nessa lógica, não produz conhecimento".
Neste sentido, resgatar esses saberes implicaria no questionamento que podem provocar rupturas na rede microfísica do poder.
Assim o discurso oficial muda, acompanhando as mudanças do capital, de acordo com seus interesses. O trabalhador, segundo a autora, não tem aceitado essas mudanças tranquilamente e vem questionando/negociando a alfabetização que quer.
Ter a clareza de que a alfabetização não serve apenas ao sistema produtivo, têm dado aos trabalhadores a consciência de que seus direitos têm sido negados. Nesse sentido eles pedem “leitura e escrita só não bastam...É preciso muito mais!” Eles falam da saúde, da moradia, do salário do “pesadão”, da falta de lazer".
De leitores e de escritores possíveis
Qualquer tentativa de mobilização por parte dos trabalhadores por seus direitos é neutralizada por um discurso que dissemina alienação e escamoteia as contradições do sistema capitalista. A alfabetização serve para assegurar reações passivas dos trabalhadores diante destas contradições.
Propostas alternativas são colocadas, segundo a autora, como uma ilusão, posto que, numa sociedade de classes, essas propostas significam ainda se aceitar a história oficial agora com novas técnicas e novos métodos.
Assim, para propor outra alfabetização é preciso pensar outra relação entre trabalhador – conhecimento e escola – identidade lingüística. Isso supõe uma realidade onde as relações sociais sejam mais justas e iguais e também um projeto de educação que não coloque a escola apenas como um acesso aos meios escritos.
A voz oficial desconsidera que esses trabalhadores “analfabetos” falam, ouvem, vêem, pensam e ao entrarem em contato com o mundo letrado, esse contato será mediado pelas condições socioeconômicas e culturais de seu grupo social. Portanto é “pelo caminho das interpretações recíprocas, dos significados dos conhecimentos produzidos coletivamente e pela própria vida de parcerias, conflitos e confrontos desse grupo de trabalhadores, que se poderia chegar à determinação dessa outra alfabetização”. Segundo Bakhtin, “o sentido da palavra é totalmente determinado por seu contexto e onde também há tantas significações possíveis quanto contextos possíveis”.


Gisele Alves Ribeiro RA: 071009
Gabriela Chiareli de Sousa RA: 073140

Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico - Marta Kohl de Oliveira


HISTÓRIA PESSOAL E HISTÓRIA INTELECTUAL/1
De acordo com Marta Kohl de Oliveira, Lev Semenovich Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, próxima a Mensk, capital de Bielarus, país da extinta União Soviética, em 17 de novembro de 1896. Viveu, com sua família, grande parte de sua vida em Gomel, na mesma região de Bielarus. Iniciou seus estudos por meio de tutores particulares e, somente aos quinze anos, entrou em um colégio privado. Neste, estudou seus últimos dois anos do curso secundário, ingressando, em seguida na Universidade de Moscou. Paralelamente a este curso universitário, Vygotsky freqüentou cursos de história e filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Foi nesta universidade onde ele aprofundou seus estudos – mesmo não recebendo nenhum título acadêmico – em psicologia, filosofia e literatura.

Formou-se em Direito no ano de 1917. Depois, em decorrência de seus interesses em neurologia, como meio de compreender o funcionamento psicológico do homem, estudou também medicina, parte em Moscou e parte em Kharkov.
Vygotsky trabalhou na área conhecida como “pedologia” (ciência da criança, que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos), dentre outras. Fundou um laboratório de psicologia, na escola de formação de professores de Gomel, e foi um dos fundadores do Instituto de Deficência, em Moscou.
Escreveu aproximadamente 200 trabalhos científicos, os quais abordavam desde temas relacionados a neuropsicologia até a crítica literária, passando por deficiência, linguagem, psicologia, educação e questões teóricas e metodológicas das ciências humanas. Sua morte prematura, aos 37 anos, mais a grande produção intelectual, marcou o estilo de seus textos escritos: densos, cheios de idéias, numa mistura de reflexões filosóficas, imagens literárias, proposições gerais e dados de pesquisa que exemplificam tais proposições. Além disso, por causa de sua enfermidade, muitos dos textos foram criados oralmente e ditados a outra pessoa que os copiava, ou anotados taquigraficamente durante suas aulas ou conferencias.
A (nova) abordagem da psicologia, desenvolvida por Vygotsky, revela-se em três idéias centrais, as quais podem ser consideradas como “pilares” do pensamento vygotskyano:
- as funções psicológicas possuem uma base biológica, porque são produtos da atividade cerebral;
- o funcionamento psicológico fundamentam-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, sendo que estas se desenvolvem-se num processo histórico;
- os sistemas simbólicos são os mediadores a relação homem-mundo;
Mediação Simbólica

A principal dedicação de Vygotsky foi o estudo das funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores(pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores tec.). Para que seja possível compreender as concepções vygotskyanas é necessário, primeiro, compreender o conceito de mediação. Este conceito, em termos genéricos, consiste no processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação, a qual deixa de ser direta e passa a ser mediada por tal elemento.
Vygotsky assume, então, o posicionamento segundo o qual a relação do homem com o mundo é uma relação, fundamentalmente, mediada. Diante disso, Vygotsky diferenciou dois tipos de mediadores; instrumentos (no plano externo ao homem) e os signos (no plano interno ao homem).
O uso de instrumentos. Dentre as características do instrumento, o autor mencionado destaca: é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza; o instrumento é feito ou buscado especialmente para um certo objetivo; ele carrega, portanto, a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo; é, pois, um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.
Os animais também utilizam instrumentos, no entanto, existem diferenças entre as utilizações humanas e as animais. Tais diferenças consistem no fato de que apenas os seres humanos produzem, deliberadamente, instrumentos com objetivos específicos, guardam os instrumentos para uso futuro, preservam sua função como conquista a ser transmitida a outros membros do grupo social; são capazes de transformar o ambiente num momento específico, mas, não desenvolvem sua relação com o meio num processo histórico-cultural.

O uso de signos. A utilização de signos como auxiliares no tocante a solução de problemas psicológicos (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc.) pode ser comparada à utilização de instrumentos, só que no plano psicológico. O signo age como um instrumento da atividade da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho. Uma das grandes diferenças entre eles, no entanto, decorre do fato de que os instrumentos são elementos externos ao indivíduo e a sua função é modificar e controlar os processos da natureza, enquanto os signos são orientados para o próprio sujeito e tem por função o controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas.

Os sistemas simbólicos e o processo de internalização. O uso de instrumentos sofre duas mudanças qualitativas fundamentais: por um lado, a utilização de marcas externas vai se transformar em processos internos de mediação; esse mecanismo é chamado, por Vygotsky, de processos de internalização; por outro lado, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem os objetos do mundo real.
Quando trabalhamos com os processos que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo.
Os sistemas de representação da realidade – e, a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos – são socialmente dados. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo. A vida humana, entretanto, está impregnada de significações e a influência do mundo social se dá por meio de processos que ocorrem em diversos níveis.
A interação de indivíduos possibilita a interiorização das formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Por isso, o intercâmbio social fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
Para se entender a origem das funções psicológicas superiores, portanto, é necessário refletir sobre as relações sociais entre o indivíduo e os outros homens, considerando que o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, por isso, histórico.
Pensamento e Linguagem

A principal função da linguagem, de acordo com Vygotsky, é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. Tal intercambio necessita, para que seja possível uma comunicação mais sofisticada, da segunda função da linguagem: o pensamento generalizante. Este consiste nos signos, os quais simplificam e generalizam a experiência vivida, o que permite que ela seja transmitida a outros.

O desenvolvimento do pensamento e da linguagem. O pensamento e a linguagem têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo trajetórias diferentes e independentes, antes que ocorra a estreita ligação entre esses dois fenômenos. Antes de o pensamento e a linguagem se associarem, existe, também, na criança pequena, uma fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem. Antes de dominar a linguagem, a criança demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios indiretos para conseguir determinados objetivos.
Pensamento e linguagem seguem suas trajetórias até que, em determinado momento do desenvolvimento, seus caminhos se unem surgindo, então, o pensamento verbal e a linguagem racional, o ser humano passa a ter a possibilidade de um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico da linguagem.
O significado das palavras. O significado é um componente essencial da palavra e é, ao mesmo tempo, um ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é, em si, uma generalização. Isto é, no significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal.
É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no “filtro” através do qual o indivíduo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele. Como os significados são construídos ao longo da história dos grupos humanos, com base nas relações dos homens com o mundo físico e social em que vivem, eles estão em constante transformação. A idéia da transformação dos significados das palavras está relacionada a um outro aspecto da questão do significado. Vygotsky distingue dois componentes do significado da palavra: o significado, propriamente dito,e o “sentido”. O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam. O sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo.

Discurso interior e a fala egocêntrica. O uso da linguagem como instrumento de pensamento supõe um processo de internalização da linguagem. Isto é, não é apenas por falar com as outras pessoas que o indivíduo dá um salto qualitativo para o pensamento verbal. Ele também desenvolve gradualmente, o chamado “discurso interior”, que é uma forma interna de linguagem, dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem vocalização, voltado para o pensamento, com a função de auxiliar o indivíduo nas suas operações psicológicas. O percurso é da atividade social, interpsíquica; para a atividade individualizada, intrapsíquica. A criança primeiramente utiliza a fala socializada, com a função de comunicar, de manter um contato social. Com o desenvolvimento é que ela passa a ser capaz de utilizar a linguagem como instrumento de pensamento, com a função de adaptação pessoal. Isto é, a internalização do discurso é um processo gradual, que se completará em fase mais avançadas da aquisição da linguagem.
No estudo da transição entre o discurso socializado e o discurso interior, Vygotsky recorre à “fala egocêntrica” como um fenômeno relevante para a compreensão dessa transição.
Desenvolvimento e aprendizado

Segundo a professora Marta Kohl de Oliveira, Vygotsky procurou compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual. Porém, não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano que abrangesse o processo de constituição psicológica do nascimento até a idade adulta.
No percurso do desenvolvimento, será o aprendizado, possibilitado pelo contato do indivíduo com certo ambiente cultural, que possibilitará o despertar de processos internos de desenvolvimento. Para Vygotsky, os níveis de desenvolvimento podem ser divididos em: nível de desenvolvimento real, que se refere às conquistas que já estão consolidadas na criança, o que ela já aprendeu e domina, indicando os processos mentais da criança que já se estabeleceram, consideradas como funções já amadurecidas; nível de desenvolvimento potencial, que corresponde a aquilo que a criança é capaz de fazer mediante a ajuda de outra pessoa. Na distância entre o desenvolvimento real da criança e seu desenvolvimento potencial, temos a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que define aquelas funções que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão e que estão em estado embrionário, fato a ser considerado na educação das crianças, já que mesmo com intermediação de adultos, a criança pode não estar preparada para certas tarefas, ou seja, erramos quando propomos atividades fora dos limites da ZDP, com conceitos e exigências abstratas demais. Neste contexto, a intervenção pedagógica promovida pela escola nas sociedades letradas possui extrema importância na promoção do desenvolvimento dos indivíduos, pelo próprio espaço privilegiado que representa e pelas possibilidades que podem ser trabalhadas, por exemplo, o lúdico, em aprender a separar o objeto e o significado.
Vygotsky também tratou em seus trabalhos, com grande ajuda de seus caloboradores, da evolução da escrita, verificando que “a principal condição necessária para que uma criança seja capaz de compreender adequadamente o funcionamento da língua escrita é que ela descubra que a língua escrita é um sistema de signos que não têm significado em si”(p.68). Entre estes colaboradores, Luria, descreve um percurso para a pré-historia da escrita: rabiscos mecânicos; marcas topograficas; representações pictográficas. Além disso, Vygostky, por seu interesse pela gênese, função e estrutura dos processos psicológicos superiores, tratou também de temas clássicos da psicologia, como: percepção, atenção e memória.

O Biológico e o cultural: os desdobramentos do pensamento de Vigotsky.

Com a proposta de explorar os desdobramentos das propostas de Vygotsky na obra de seus colaboradores, a professora Marta Kohl de Oliveira aborda neste capítulo, três aspectos fundamentais: o funcionamento cerebral como suporte biológico do funcionamento psicológico; a influência da cultura no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos; a atividade do homem no mundo, inserida num sistema de relações sociais, como o principal foco de interesse dos estudos em psicologia.
Um dos pilares do pensamento de Vygotsky é a idéia de que as funções mentais superiores são construídos ao longo da história social do homem, a história social objetiva tem um papel essencial no desenvolvimento psicológico que não pode ser buscado em propriedades naturais do sistema nervoso, ou seja, o cérebro é um sistema aberto em constante interação com o meio, este meio será capaz de transformar suas estruturas e mecanismos de funcionamento, podendo se adaptar a diferentes necessidades e servindo a diversas funções estabelecidas na história do homem.
Luria aprofunda em sua obra a questão da estrutura básica do cérebro em três unidades: a unidade para regulação da atividade cerebral e do estado de vigília; a unidade para recebimento, análise e armazenamento de informações; a unidade para programação, regulação e controle da atividade. Além disso, atividade psicológica é para Luria um sistema complexo que envolve a operação simultânea de três unidades funcionais: percepção visual; a análise da síntese da informação recebida pelo sistema visual; os movimentos dos olhos pelas várias partes do objeto a ser percebido. Outro aspecto importante no trabalho de Luria trata da organização cerebral, a idéia de que a estrutura dos processos mentais e relações entre os vários sistemas funcionais transformam-se ao longo do desenvolvimento individual.
Outro importante colaborador de Vygotsky foi Alexei Leontiev, para quem as atividades humanas são formas de relação do homem com o mundo, dirigidas por motivos, por fins a serem alcançados, ou seja, o homem orienta-se por objetivos, planeja suas ações agindo de forma intencional. Leontiev distingue a estrutura da atividade humana em três níveis de funcionamento: a atividade propriamente dita, as ações e as operações.

Conclusão

A professora Marta Kohl de Oliveira conclui seu trabalho neste livro ressaltando importantes pontos na teoria de Vygotsky, que “o homem biológico transforma-se em social por meio de um processo de internalização de atividades, comportamentos e signos culturalmente desenvolvidos”(p.102). Nos indicando também que a obra de Vygotsky é apenas um esboço de um projeto, não nos fornecendo uma teoria bem estruturada a respeito do inúmeros temas tratados por ele em tão pouco tempo. Para a autora, um grande problema na área da educação no Brasil é a tentativa de se estabelecer uma proposta pedagógica única, baseada numa idéia de escolha da melhor teoria, principalmente nos confrontos entre as teorias de Vygotsky e Piaget. Desta forma, considerando que ambos os autores nos trazem uma enorme contribuição, a melhor forma de atuação será a de compreender o melhor possível cada abordagem, para que haja um real aprimoramento da reflexão sobre o objeto a ser estudado.


José Carlos P. Filho R.A: 071301
Eduardo Alessandro Kawamura RA: 991652